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Calote chega a 5,9% e bate recorde
Em julho, inadimplência nos empréstimos subiu pelo oitavo mês seguido, puxada por empresas de menor porte
Fernando Nakagawa
Em julho, inadimplência nos empréstimos subiu pelo oitavo mês seguido, puxada por empresas de menor porte
Em julho, a parcela dos empréstimos com atrasos de mais de 90  dias subiu pelo oitavo mês seguido e atingiu 5,9% das operações, o pior nível da  série iniciada em 2000. A alta da inadimplência foi provocada pelas empresas,  sobretudo as de menor porte, e ocorre apesar da recuperação do crédito.  
No mês, o volume de empréstimos cresceu 2,6% ante junho. Mais uma vez,  bancos públicos lideraram, com destaque para os R$ 25 bilhões emprestados pelo  Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) à Petrobrás.  
O aumento da inadimplência ocorreu apenas nos empréstimos para empresas.  Nesse tipo de operação, 3,8% dos créditos - o correspondente a R$ 1,44 bilhão -  têm pagamentos atrasados, no maior nível desde maio de 2001. 
Em junho,  essa parcela era de 3,4%. Nos financiamentos para pessoas físicas, o índice  continuou estável em 8,6% pelo terceiro mês seguido. 
O chefe do  Departamento Econômico do Banco Central (BC), Altamir Lopes, diz que os  indicadores têm sofrido principalmente com a inadimplência nas linhas de  desconto de duplicatas (8,5% das operações) e conta garantida (4,7%), uma  espécie de cheque especial das empresas. Essas são as duas operações de crédito  mais usadas pelas empresas, sobretudo as de menor porte. 
"Enquanto boa  parte das grandes observa melhora do acesso ao crédito, as pequenas e médias  ainda enfrentam situação bastante restritiva", diz o analista da LCA Consultores  Bráulio Gomes. Para ele, o quadro deve melhorar a partir de setembro com a  retomada da atividade e início da operação do Fundo Garantidor de Operações  (FGO), espécie de seguro para empréstimos de pequenas empresas. 
O  professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Fernando Nogueira da  Costa concorda que os números devem melhorar. Ele lembra que a inadimplência  reage com defasagem à piora da economia. "Ainda é consequência do choque  passado, quando o crédito ficou restrito e juros subiram. Essas empresas  contrataram o empréstimo com juro mais alto que o atual e muitos setores ainda  têm dificuldade nas vendas", avalia. 
Os dados do BC mostram também que a  reação do mercado de crédito ocorre principalmente nas operações com recursos  direcionados, quando o uso do dinheiro é determinado pela legislação. Nesse tipo  de operação, o volume de operações cresceu 7,8% em julho ante o mês anterior.  
Nos empréstimos com recursos livres, operações típicas de mercado, onde  há maior competição entre os bancos comerciais, o volume avançou apenas 0,4% na  mesma base de comparação. 
BANCOS PÚBLICOS
Assim como ocorreu nos  meses anteriores, os bancos públicos lideraram a expansão do crédito, com  crescimento de 6,2% no total de empréstimos. O valor foi inflado pela operação  bilionária do BNDES com a Petrobrás. 
O ritmo é bastante distinto dos  concorrentes. No mesmo período, bancos privados nacionais tiveram aumento de 1%  no volume emprestado e os estrangeiros diminuíram o crédito em 0,8% na  comparação com junho. 
"Os dados mostram que os bancos públicos ainda  lideram a recuperação do crédito, o que é importante para minimizar os efeitos  da crise", diz o vice-presidente de Finanças da Caixa Econômica Federal, Márcio  Percival. 
Mas os bancos privados devem reagir em seguida. "Agora, com a  expectativa de reação mais forte da economia, há perspectiva de que as  instituições privadas passem a ser mais atuantes, com maior oferta de  crédito."
O executivo afirmou que o recente aumento da demanda por  crédito vai fazer a instituição revisar para cima a previsão de expansão da  carteira de crédito em 2009. A previsão atual é de 40%. "Em um mês, devemos  apresentar um novo número, maior", afirmou.